domingo, 17 de abril de 2011

Seu Nogueira - I

Lembra daquele dia em que você disse "foda-se"? E, por coincidência, me encontrou. Não sei se você já sabia que eu sou o tipo de pessoa que potencializa esses sentimentos de liberdade; talvez você só suspeitasse, antes daquele dia. Era uma terça-feira de um sol tão brilhante, tão forte e tão quente que não parecia junho. Eu estava indo para a faculdade e, naquela calçada ofuscante, você parou; do meu lado, no meio do trânsito. Você me perguntou se eu queria uma carona e eu disse que só se fosse para longe da universidade. Você sorriu, eu entrei e aí eu disse como estava bonito o dia, e que merecia uma praia; que não deveríamos estar ali, prontos para estacionarmos numa sala de aula pelas próximas 3 horas. Você concordou. Olhou para mim com uns olhos que até hoje não sei explicar como estavam, mas sei que estavam diferentes. Tinha alguma coisa entre dúvida e idéia, sabe? Como se você tivesse vontade de dizer algo mas na mesma hora, tivesse desistido. Eu perguntei o que você achava, e você disse que tinha uma prova, mas que se não tivesse não ia pensar duas vezes antes de ir pra praia. E eu perguntei qual era o problema de deixar pra depois, que já que estávamos ali, iríamos à praia. E completei com um "ora porra". Você riu meio triste, e disse que era complicado. Eu insisti. Você gostou de ser insistida, e eu insisti mais. Hoje em dia sei que você já estava convencida de ir à praia comigo, antes mesmo de me dar carona, e que você só queria saber até que ponto eu tinha vontade de sair com você. E aí você passou direto pelo portão de entrada e perguntou: "Para onde vamos?" E eu disse: "Faça a volta. Tenho uma idéia. Tem bastante gasolina?". Você disse que sim, e fez a rotatória. Seguimos direto e quando você perguntou onde iríamos, eu disse que para o litoral sul. Perguntei se você já tinha ido, você confirmou, mas disse que não conhecia muitas coisas. "Vou levar você em Seu Nogueira". Quando você me perguntou quem era, eu disse que você ia saber quando chegasse. "Tudo bem", você disse. Afinal, você sempre gostou de surpresas e, ultimamente, não tinha tido muita oportunidade para subverter seus próprios conceitos.


A continuar

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