quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A hora do lobo






E, como diria o pintor Johan Borg,  “um minuto é, na verdade, um espaço enorme de tempo”, eu me pego criando, projetando, montando, inventando.
Dormi. E, durante esse minuto de sono, vi uma mulher sentada de frente para mim em uma poltrona. Sentada não, mas preguiçosamente largada, como que deitada. A perna direita em vias de se cruzar com a esquerda. Na mão, um cigarro aceso; no corpo, um vestido justo. A luz vinha pela direita, de uma janela grande; luz da manhã. Então ela tragou o cigarro, levemente, saboreando cada centímetro de fumaça cúbica; cerrando milimetricamente as pálpebras no aumentar da chama. Pôs o cigarro de lado, abriu mais os olhos, e me me encarou. Rapidamente. Exalou a fumaça tão vagarosamente que eu podia ver cada detalhe das espirais subindo ao teto; e o reflexo de cada raio de luz matinal golpeando as linhas que se desfaziam em minúsculas nuvens acima de sua cabeça. Ela se inclinou rápido, apoiou seus dois cotovelos nas pernas, me olhou diretamente na boca e disse: “Tem certeza?”