quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Marina I

Nada acaba agora.
Um barco chega ao porto; ele zarpa.
Os barcos, Marina, foram feitos para ir-se.

Nada acaba agora.
O cais se apequena, se distancia.
Os barcos, Marina, estão idos.

Mas nada acaba agora.
O mar se agranda, à frente; se infinita.
Os barcos, Marina, somem no céu.

Um céu tão fácil de confundir com o próprio oceano; uma linha minguante, impossível de traçar: o horizonte inalcançável, Marina. Eu, tantas vezes ido, tantas vezes retornado…

Agora estou na praia. Não há cais, não há porto, não há barco. Há somente a areia molhada, meus pés e alguns pássaros. É tarde. Marolas espumantes minúsculas banham meus dedos, lavam meus pés. Vem e vão, levando um pedaço de mim. Pouco a pouco eu desvaneço, com cada pequena onda, com cada som de mar.


O cais, Marina, ele já não me chama.