sábado, 18 de fevereiro de 2017

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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Conversando com Sophia


Há mulheres que são maré em noites de tardes...
e calma
Sophia de Mello Breyner Andresen






Minha amiga, há, viu. Há mulheres que são marolas nas tardes quentes de Tambáu. Há mulheres que são a espuma de cada onda cantante, indo e vindo desde sempre, pra todo canto, em que se sente, bem insistente, um calor profundo, quieto, manso e delicado; o calor sem ardor, só um leve queimar de fogo baixo, lento. Há mulheres que trazem nesse olhar uma leveza de brisa morna, de brisa certa; há mulheres, Sophia, tu bem dissesse, há mulheres que trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos, num foi? Pois então, é verdade, eu confirmo e reconfirmo pra tu, Sophia: Há mulheres que vem deslizando em poesia, num flutuar de jangada velha, acostumada com os desvios das marés; há jangadas e mulheres, Sophia, que sabem-sentem cada maltratar de vento, por mais ínfimo que seja; jangadas e mulheres que navegam no mar da certeza, com a experiência milenar que, meu senhor jesus cristo, valha-me deus, parece passar de geração em geração - as mulheres pelo sangue fervente das fogueiras medievais e as jangadas pelos veios resistentes das madeiras. Há mulheres que são sol em dias gélidos nos portos tirrenos; mulheres-claras que iluminam o caminho entre a miríade abismal de rochas e sereias e entre tantos bafejos mortais das hidras de sal paraibanas.