segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Gemido a gemido se abre la herida

Gostaria de saber que gosto ela tem. Não. Gostaria de saber como ela goza. O que sussurra - ou grita -; o que geme; como geme. Se diz 'ah' como quem suspira ou se diz 'ah' como quem se extasia, contorcendo o tronco para cima e arqueando a cabeça para trás. Gostaria de saber como ela usa as mãos, qual a pressão que põe nos dedos, que tipo de movimento faz com os braços, e se faz muitos movimentos. Será que ela range os dentes e faz sons gulturais violentamente ou não? Vai ver ela olha com aqueles olhares de leve desespero, de súplica, de desejo imerso, cercado por outros olhares um tanto indefinidos, quase inexistentes, mas presentes em alguns milésimos de segundo; que entre o abrir e o fechar de pálpebras é que se percebe, como flashes em slow motion. E, finalmente, se ela adormece vagarosamente ou se sorri, boceja, diz palavras sutis e se apóia sobre o braço, olhando com uma pequena parcela de estar maravilhada e estar satisfeita. Satisfeita? Satisfeita.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Depois do pôr-do-sol

- Você nunca quis encontrar alguém para ouvir tudo o que você tem a dizer? Alguém que vai lhe perguntar com toda a curiosidade do mundo a respeito dos seus planos? E quando você disser que gostaria de ser uma atriz famosa, você não gostaria de ouvir alguém perguntando "e como você vai fazer isso?" ou "você realmente gostaria de fazer isso?". E, quero dizer, é tão fácil ter amigos que lhe apóiem, que lhe digam que você é talentoso ou que você é uma pessoa divertida, interessante... Mas eu quero encontrar alguém que me diga essas coisas enquanto está deitado ao meu lado, entre os lençóis, depois de transarmos durante metade da noite. Entende? Que me traga café da manhã na cama dizendo como gostou da noite anterior, como gosta de mim, como quer ficar comigo durante o dia inteiro sem fazer nada, apenas conversando entre sexo e um pouco de vinho... Você nunca quis isso, porra?

- Sim, mas...

- E como você vem me falar pra ter paciência? Venho tendo paciência com vocês a vida inteira! Nunca tiver um minuto sequer de paz, e mesmo quando eu namorava aquele cara, era a mesma coisa! Nem consigo sequer me lembrar porque começamos a namorar, ou porque eu fui apaixonada por ele! A única coisa que eu me lembro era que ele me ganhara pelo cansaço, e pronto. Percebi que sentia falta quando ele não me ligava conversando qualquer porcaria; que era estranho abrir minha caixa de mensagens e não ter um e-mail piegas dele contando as coisas do dia, mesmo ele sabendo que eu não dava a mínima para quem ele tinha conhecido na academia, ou sobre a multa de trânsito no carro do pai. Não fazia diferença, entende?! Eu só sentia falta da atenção, foi isso que eu percebi. Que, aos poucos, ter alguém me dando atenção era bom... Mas agora eu percebo que foi justamente esse o problema. Que eu me acostumei a isso... Que os homens sempre me deixaram acostumada, que eu nunca tive tempo para sentir uma necessidade real. E agora, que eu tenho consciência disso, vem você e me diz para ter paciência!

- Não disse para você ter paciência, disse que você dever

- Não! Você só disse que eu encontraria alguém para me chamar de 'meu amor' ou trazer flores na minha cama. Mas isso eu já tive, você não vê? Já tive, mas quem fez isso por mim não o fez porque tinha interesse em saber quem eu era, o que eu pensava, quais meus sonhos! Quem o fez, fez porque queria me ter, queria me conquistar, queria que eu pertencesse a uma relação! Não o fez porque sabia que eu gostaria, e sim porque apostou que qualquer mulher gostaria. Claro! Qual mulher não gostaria de ser paparicada? E eu gostei, não nego. Gostei! Mas o conhecimento de tudo isso agora me faz perceber que eu não preciso somente disso. Não é de alguém que queira me conquistar, porque eu não quero pertencer a ninguém. Eu quero conhecer alguém que me diga: "Vamos tomar um café?" E me faça perguntas, se interesse por quem eu sou. Alguém que queira me descobrir! Não simplesmente alguém que me acha bonita ou que queira transar comigo e, por causa disso, tente me conquistar usando todo tipo de artifício barato.

- Será que voc

- E quer saber mais? O tempo todo eu estive aqui. Tudo bem, viajei bastante, tive vários namorados, mas o tempo todo eu estive aqui, concorda? Sempre conversamos, sempre lhe contei como estavam as coisas, nunca perdemos o contato. Seu problema foi nunca ter demonstrado que tinha sequer um remoto interesse por mim. Sexual, eu digo. Tesão. Você sempre me disse que gostava de mim, mas eu era sua amiga, éramos divertidos. Não é que eu não tenha percebido (caso você tivesse tentado demonstrar). É que eu percebi o contrário, que você justamente não tinha interesse nenhum por mim, a não ser o da minha amizade. Queria que eu fizesse o quê? Que ficasse parada esperando que uma indicação caísse do céu? Meu Deus! Eu tenho uma vida para viver, lugares e pessoas a conhecer, e você sempre ficou nessa sua vidinha de cidade provinciana! Sempre te chamei para ir comigo, e você nunca teve coragem. Claro! Não tinha coragem nem mesmo para mostrar que estava interessado por mim, imagine para sair do país.

- Você está sendo inju

- Estou? Eu estou sendo injusta? Saíamos juntos, íamos a festas na praia, eu ia na sua casa o tempo inteiro, ficávamos juntos, bêbados, flertávamos, porra! Eu paquerava com você, sentava no seu colo. A gente dormiu juntos, cacete! Depois eu cansei. Ora, para quem tinha a faca e o queijo nas mãos, você me pareceu bastante idiota. Merda, eu morria de ciúmes daquela namorada sua e você achava que eu estava somente preocupada com você. Eu fiz de tudo para mostrar que ela não valia a pena e, no final das contas, você CASOU com ela! E eu estou sendo injusta. Quer saber? Você mereceu mesmo. Aproveite a sua lua-de-mel e talvez a gente se encontre um dia, quando eu voltar por aqui.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

curva senoidal de um domingo chuvoso

"más y menos,
y en el otro extremo
de esa línea, estás tú"



















- o ápice da minha noite de sábado foi beijar as duas faces dela































- e do domingo?




































- lembrá-lo






































agosto chegou
e com ele
uma tempestade de
murros
no meio do meu peito
abierto

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Estoy jodido

assim vejo a cena:

uma mulher caminha lentamente pela praia. não sei quem ela é, ou o que faz, de onde veio e todas essas perguntas que não fazem diferença quando se tem um pedaço do seu corpo - mão, pescoço, quadril, coxas, pés - sobre o meu. um vestido balança ao vento - fraco, sem temperatura aparente. o passo é lento, mas decidido, fluente; musical se estivesse pisando em uma partitura. vejo sua cabeça para baixo, mas não muito. não olha para os pés, acho, mas para um pouco mais além. não sorri, e tampouco creio que chora. ainda está muito longe para perceber como são os olhos. os braços são muito finos, os dedos mais ainda, e movem-se quase que deixando reflexos para trás. segura um par de sandálias que parecem muito leves. tem cabelos que mais finos parecem quanto mais se alongam. para os lados, compreendendo curvas leves para cima, esfumaçando-se ao redor do seu pescoço. e, quando ela passa, sinto um aroma que parecia já vir de antes e eu compreendo que a senti, antes de vê-la. o cheiro se torna mais forte em cada um dos passos, ou duplicado por eles. não identifico prima facie, porém sei que já conheço. não consigo recordar em que tempo eu senti este cheiro, nem onde, ou por qual razão. "talvez", penso eu, "não seja um cheiro exatamente, mas uma vontade, como se eu estivesse há muito tempo esperando senti-lo e só agora o real se identifica com o imaginado". ela se aproxima e eu consigo perceber as nuances, os detalhes que antes eram um todo movendo-se em minha direção. os dedos são mais finos do que os braços, e muito mais delicados. é este tipo de dedos que pertencem a certas mãos que não tocam, mas que acariciam todos os objetos que seguram, ou mais que acariciam, simplesmente tocam através da sensação, não do toque propriamente dito. são dedos tão leves e suaves que não precisam tocar para serem sentidos. é a sensação do toque, antes do toque; ela está me olhando, e eu agora posso descrever o que vejo, sendo visto. olhos grandes. não. enormes. belos olhos enormes. não parecem maiores porque estão assustados, mas sim porque são grandes e, apesar de estarem mais que levemente contraídos - as sombracelhas têm uma mínuscula ruga de indagação entre elas - eu percebo que são castanhos. não, não são castanhos. têm uma cor aproximada do castanho. é mais claro e mais disperso do que o marrom, e não é tão claro quanto o mel. talvez não seja uma cor, e sim uma outra coisa. talvez não se defina os olhos dela pelas cores, mas pela sensualidade que transmitem. olhos sensuais. sensualidade por trás dos olhos, em verdade. porque, à frente, há uma espécie de melancolia, quase que inexata, inconstante, foi e veio várias vezes nestes segundos que nos olhamos. não está triste, percebi, só está... parou de me olhar. olho sua boca e seu nariz, meus olhos movem-se rápido entre eles. há uma curvatura sólida próximo à junção dos lábios, na lateral. o que será isso? pergunto-me quantos homens já a identificaram e talvez nenhum a tenha notado.
passou. o cheiro e ela. passaram. agora são as suas costas que tenho de descrever. há um decote no vestido, e eu vejo grande parte de suas costas. de baixo para cima, noto uma imprecisa mudança de tons na sua pele, como um bronze antigo mal definido. o movimento do seu caminhar se reflete em ecos por toda a sua coluna vertebral, num baixo relevo dinâmico. as suas costas dançam e as omoplatas são volumosas, os braços têm uma leve arqueadura para trás. omoplatas perfeitas, em movimentos laterais. imaginei vê-la deitada e, num raio de visão limitado, somente as suas costas. vejo sardas, dezenas, centenas delas, nos seus ombros magros. ela se vira. me olhou e eu a estou vendo me olhar, gosto disso. ela sorriu, creio que também gosta que eu a olhe. os cabelos esfumaçados cobriram-lhe o rosto e eu vejo o que imaginei: seus dedos não precisaram tocá-los para afastá-los dos olhos.