terça-feira, 11 de julho de 2017

Man overboard




Esta é a cena: Um homem de costas, em pé na areia da praia, olha para o mar. Você está a uma boa distância, o homem não lhe vê. À verdade, ele não pode lhe ver mesmo que se vire. Ele está com as mãos cruzadas atrás. O vento suave, mas insistente, levanta-lhe um pouco os cabelos, tremula as mangas soltas da camisa cinza. É o início da manhã, mas poderia ser o fim da tarde. Alguns pássaros sobrevoam o homem e o mar. As ondas, espumas calmas de contornos imemoriais. O céu sem nuvens anuncia uma manhã fresca - ou uma noite singela. Não há mais ninguém nesta praia, o homem está só. O homem não se move. Sua cabeça está inclinada milimetricamente, para trás. Você gostaria de saber o que o homen pensa. Ele pensa no mar. Observa o ir e vir das minúsculas ondas. Ele pensa que gostaria de caminhar até elas, sobre elas, e sumir no horizonte. Não para descobrir o que há além, mas para desaparecer junto com ele. Agora o homem se moveu. Inclinou ligeiramente a cabeça para a direita. Você gostaria de saber por quê. Terá concluído um pensamento? Sim. O homem concluiu que não, o horizonte não é a resposta. Não há resposta. Ele concluiu que esta é a vida, e tudo que nela há, com as agruras pertinentes. O homem sabe disso. Mas ele, o mar, lhe traz a sensação que precisa, a paz de espírito necessária para enfrentar a obrigação diária em estar vivo. Sempre foi ele, o mar, quem lhe trouxe esta paz.

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