quarta-feira, 26 de julho de 2017

Live and let it be

eu bêbado, o mar me abraça
vivo confundindo amor e mar
concha, areia, lençol, espuma
barco, bar, vela, travesseiro,
varanda, passadiço, quilha, costado
cerveja e chão

um cangote candango
um par de coxas raiadas
um gato desconstruído
a porta aberta
a mesa testemunha
um cigarro - vários cigarros - não reclamados
aquela luz solitária acesa
um sofá confortável, apesar da certeza de que deveria ser maior
a louça, a pia, o fogão, a geladeira
e o
café

uma certeza:
essa coisa de sempre ir, sempre ir

nada me cabe
o álcool me alucina:
minha vida foi um peito aberto
balouçante, reboteante
um livro de visitas
cuja única assinatura - a minha - 
pairava solitária sobre o esboço de um coração nem terminado, desenhado por uma muchacha de uma cidade centenas de quilômetros longe de qualquer linha de costa

ainda bêbado, o mar me regurgita
e eu volto à terra
piso, trôpego, num chão antes firme
nada sinto firme
nada é firme

e sentir é doer
eu hoje confundo mar e dor

antes: vir
hoje: ir
agora: foda-se


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