quinta-feira, 29 de junho de 2017

Marina III

''Mas a brisa, por ser carinhosa, é quem mais tem castigado.''


Um fiapo de trapo amarrado na velha estaca
fincada na praia
Minúsculos restos de tinta descascada
voando sem dó
Redes, bóias, restos de iscas e linhas
dependuradas ali
São os restos esquecidos das tantas
saudades que o mar viu nascer

Sonho que vou a caminho do mar. A pé e de coração leve, como disse Whitman. Sinto meus pés deslizarem suavemente sobre a planície. Não piso; quase flutuo. Os dedos, pequenos, sentem os grãos por entre; os dedos entram na areia fina do mar. É areia minha, Marina, areia daqui. A cada flexão de músculo, meus dedos afundam, entram mais e mais. Já não flutuo. Sinto, com cada centímetro de pele, que meus pés abraçam a praia. Paro. Parte de mim olha para o farol da Pedra Seca, à frente; a outra parte, essa que é vista agora, olha para dentro, Marina. Não há farol. Não há barco. Não há um porto; destino. Meu corpo, Marina, é um cais de emoções. Minha alma, antes marina, é um leito seco. Não há mar; é meu destino.

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