terça-feira, 1 de março de 2011

Câncer

mas sempre que tem vento, ela sente. vai lá fora e vê a lua, densa. e pensa: que linda. entra, pega a tinta e pinta, cria, recria, desenha, redesenha e se acalma. assim ela relaxa. tu acha?













a sua tristeza era tão aparente e visível que era como se fosse parte do seu corpo. tinha forma, cor, cheiro, textura.


(não bastasse, obedecia aos comandos do seu cérebro - também como uma parte do corpo - mas não obedecia aos seus comandos. era parte do seu corpo, sim, mas não estava atrelada a nenhuma outra parte. poderia estar junto à cabeça, aos braços, às pernas - ou ao coração. fazia movimentos espontâneos que não se sabia bem por que. ia e vinha, simplesmente. às vezes lhe assaltava o sono da madrugada e lhe saltava dos olhos, mas sem molhar o rosto, porque era tristeza, e não lágrima. às vezes era concreta e lhe batia no peito, bem próximo ao esterno. de dentro pra fora, geralmente).


e isso dava pra ver só de olhá-la, vê só.


(mas aí aconteceu algo que me confirmou as suspeitas. a tristeza dela me tocou e eu pude me dar conta de que sim, era física e real, a tristeza dela).

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