terça-feira, 13 de novembro de 2018

Conversando com Matilde



Matilde fez-me querer a escrita uma vez mais
uso esta palavra com a conotação mais clara possível:
desejar, ansiar, almejar, aspirar, cobiçar.

o anelo dos dias

leio o que escrevo e acredito, aceito.
leio com sotaque português Matilde me lendo
escuta, Maurício, o que te digo: vem

o amor é um espelho infinito,
o contrário do fim

tem alguma coisa de eterno na fala dela,
não o quê, mas o como, o é

fui mais de uma vez até lá, à beira da praia
colhi conchas e as devolvi, virgens
serão conchas por muitos anos mais

e ainda Matilde conta, bem ao pé do meu ouvido
sobre a solidão das baleias, e sei lá
quem fala sobre a solidão das baleias com tanto twitter

passa um rapaz com uma caixa de isopor nos ombros
grita camarão é 3 por 10, ovo de codorna também,
bronzeador, protetor, carregador portátil

somos feitos de matéria escorregadia, sim

eu parecia até saber falar dessas coisas, porque eu li
eu lia, né, agora nem isso
também escrevia umas quantas linhas na maior pretensão de ser quem eu descrevia
até mesmo estas linhas, que parecem poesia eram somente uma prosa conturbada
e agora, fragmentada em versos, pra tentar dizer à Matilde que
enfim

eu quis a escrita mais uma vez,

pra escrever teu nome, 70 vezes seguidas
e ao lado das 70 vezes seguidas,
totalizando outras 70 vezes seguidas,
um sonoro e brilhante
- como o ínicio de cry baby -

adeus.

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