domingo, 4 de maio de 2008

Sobre a morte e outros domingos

Eu passava na frente de uma casa de velórios, cabisbaixo, como sempre fazia nesses dias. Via as pessoas chorando, lamentando a perda de um ente querido - pai, mãe, avó - e tentando se consolar - um ao outro. Eu me detive alguns instantes, próximo à arvore - que fazia sombra sobre meu rosto - e fiquei olhando aquela cena. Um pouco ao lado, numa sala mais separada, havia um caixão de mogno escuro, ladeado por flores brancas e amarelas, com velas e uma coroa de flores na cabeceira. Eu me aproximei e vi que não havia ninguém, exceto o corpo levemente perfumado por margaridas. Observei com atenção a fisionomia do morto. Ele tinha um rosto arredondado, um pouco obeso, com olhos pequenos. As sobrancelhas estavam preguiçosamente arqueadas, como de um espanto suave. Por baixo do nariz redondo e grande, um bigode proeminente zelava os lábios finos, colados. À primeira vista não se notava, mas quando eu pus a mão sobre a borda do esquife e olhei atentamente para sua face, eu notei que o morto estava triste e solitário. Não era a solidão dos mortos, da eternidade. Era a solidão dos vivos. A falta de calor, de mãos sobre as mãos, de abraços amigos, de beijos carinhosos e afagos de carência. Eu vi a falta de humanidade na morte do defunto. Dei meia volta e fui embora, relembrando a nostalgia dos meus tempos de rapaz, e pensei:
- Morrer num domingo deve ser mais triste que a própria morte.

11 comentários:

Anônimo disse...

"...relembrando a nostalgia dos meus tempos de rapaz..."

desistiu mesmo foi?

Anônimo disse...

Surpreendente. Talentoso. =D

Continuarei lendo-o.

o/

João Jales disse...

Hunf. Melancólatra anônimo de Macondo.

Primoroso.

Cla disse...

gostei.morrer deve ser muito triste em qualquer dia ou qualquer hora.vc escreve bem,menino dan!
=D

Pamella Oliveira disse...

Só mesmo os tediosos domingos para deixarem a morte ainda pior. Os domingos me deixam com medo, por isso sempre vou dormir cedo no primeiro dia da semana.

"Olhos de Cão Azul" foi o último do Gabo que eu li, e me amarrei muito! Principalmente no conto "A mulher que chegava às seis", até pensei em fazer um curta, pq alguém ainda não fez??

Seu blog é demais!

;**

M de Marla disse...

=*

tu escreve mto bem, menino.

Gabriela. disse...

Dá a sua mão, vamos escapar desse mundo pós-moderno. rsrsrsrsrs
o__________ completa com teu braço. *.*

Pamella Oliveira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pamella Oliveira disse...

Maurício Babilônia (lembro-me de suas insuportáveis borboletas amarelas!!), me deixou muitíssimo alegre todos os seus comentários (mais ainda os de outros posts!). Pode comentar sempre que quiser, e falaremos SEMPRE de Gabo, é meu autor-inspiração, junto com Clarice Lispector!! Ate-me pelas mãos ou pelos pés, o importante é falarmos de Literatura, mas não uma qualquer e sim: GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ ^^!!

Bom, estás linkado no meu blog! Visitarei-lhe sempre! Não li a autobiografia do Gabo, aliás, ainda não a encontrei por aqui *_*. Tbém não li "Cândida Erêndira", mas é o meu próximo da lista!! E Hoffnung, é ESPERANÇA em alemão!

Ah, a saudade... eu não saberia explicar, é como fome, rs! É algo que só sentindo pra entender. Puxa, como saudade deixa vazio!! E sobre o peso de uma alma, é o peso que a minha tem. Sinto que isso é a única coisa que sei sobre minha alma...


Graande beijo!

Anônimo disse...

Escritor pronto é um belo texto pronto.


morrer sozinho é tão triste o tempo todo.

Pamella Oliveira disse...

Eu não li "O Amor nos tempos do Cólera", mas achei muito interessante. Será por isso que gostei do filme?? Todos que leram o livro me disseram que o filme é uma merda.

Passe-me seu endereço de MSN que te add! Assim teremos contatos.
;**