quarta-feira, 5 de março de 2008

Aos doutores da poesia

( )

Não preciso de bisturis
Não vou dissecar as entranhas dos animais
que me invadem e
depois rugem como
quem espanta os demônios numa luta
sem fim

Não tenho meios
Não existem fórmulas para se descobrir
[mesmo fabricar
as análises críticas
do arrebol poente
E nem as curvas da
metafísica
hão de compreender um dia
o hálito bravio
das leoas no pranto do
cio seu de cada sol

Basta com a poda!
Eu não sou um proclamador das
letras e dos livros

Ainda ontem, quando eu permanecia
tudo eram faces obscuras
(e o serão para sempre

Olhamos para os astros
E o que eles tem a nos dizer?
"Lúcio, que somos nós?"

Quantos ainda hão de passar?
Se o acaso me produz
Eu não escrevo ao acaso

E as palavras, Lúcio
ou seu exercício de voar
não fazem pouso, ou ninho

Elas se limitam, Mário
[como as suas andorinhas
a cagar no meu pobre fio de vida

2 comentários:

João Jales disse...

Linda, cara. Essa foi perfeita!

Não sei nem o que dizer...

Anônimo disse...

não escreve ao acaso, mas seus punhos traspiram poesia em forma de letras!

perfeito isso!

vc é foda e sabe disso.
vc é foda mesmo.