Eu tenho muitas canções dentro de mim
a poesia
não está em mim
agora
a poesia
me rodeia
cambaleia entre os troncos rijos da minha consciência
a poesia
me foge
e me maltrateia
ah! a poesia
como essa vida fosse
poesia, não há nada
que não seja
poesia
( )
Pescar no redor consciente a poesia
não me é mais
eu não posso abrir um pára-quedas de palavras
de frases, de versos
o chão lá embaixo
abaixo
me observa, conquanto
a poesia não me seja
( )
eu tenho um vão de emoções
pintado entre as várias faces desta obscuridade
são peças de gesso dissolvidas
nas páginas úmidas da canção
( )
meu veleiro não é mais eu
eu não sou aquele
que navegava entre os mares da poesia
a poesia acabou
o mar secou
meu casco partiu
barco naufragou
amanhã, talvez
o mar se recomponha
para calcar, sob as gélidas pás
do meu navio paraibano
uma torrente acre de
( )
eu estou lá
varios eus meus estão lá
prontos, esperando
para serem pescados por mim
eu os pesco
e eu os faço meus novamente
para que não voltem para lá
( )
a poesia
é o epitáfio da
minha consciência
e o amanhã
as lápides
num cemitério de
emoções
( )
não tenho restos
eu acabo todo
assim que me esvaio
não tenho cantos
eu desafino tudo
e não lixo minhas bordas
eu sou inteiro e sou
essas rugas
nas dobras de cada fé
de cada esquecida fé
eu guardo
a poesia
( )
a geometria das cores não esconde
é parte substancial da matéria
formada entre a natureza do ocaso
[tantas variáveis se perdem!
e entre as serpentes do poema
Um comentário:
entre uma linha e outra, este abismo cheio de variáveis.
muito bonito.
e tudo o que se perde.
se perde.
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