domingo, 23 de março de 2008

A febre e os sinais

E a queria. E a desejava. Parecia-lhe que as pernas não suportariam mais o peso de potro desguarnecido, e suas ancas já lhe anunciavam que não poderiam aguentar mais que aquilo. E mais ainda a visão das costas nuas dela a perturbar-lhe e a precipitar-lhe as sensações despudoradas que o envolviam. Chegou ao íntimo dos pensamentos quando ela se virou, uma mão sobre a cadeira e a outra roçando a nuca sob os cabelos ondulados. Olhou-o como para quem olha um moribundo atravessado à calçada. E olhou-o mais ainda com uma perturbação inexperiente: vê-lo desejá-la às pressas, sem dor nem culpa, queimou-lhe o ventre com uma avidez brutal. Não conseguia distinguir as sensações e chegou a pensar que por um instante estivesse o desejando. Descartou a idéia um milésimo de segundo depois, e constatou que não o queria; que queria um macho de qualidade anormal para cortar-lhe o meio das pernas com uma verga e uma força brutais; queria ser atirada para os lados entre os dentes de predador dele; queria ser traspassada pela tora do minotauro. Mas teve de abrir as pernas, menos para satisfazer a curiosidade pueril dele, do que para suavizar, na fresca da tarde, as queimaduras de vapor que lhe subiam por entre as coxas.

2 comentários:

Ana Carolina Feitoza disse...

Tu escreveu isso domingo mesmo? Me pareceu uma resposta!

Anônimo disse...

uau...........
to sem folego!