quarta-feira, 29 de junho de 2016

devagar, sem pressa, me ouve

 


eu não sei o que me fazia querê-la mais e mais: se era o fato de não podermos ficar juntos - ou melhor, de ela não poder ficar junto comigo, afinal, quem tinha o dedo num anel não era eu - ou se era o fato de ela caminhar como se rimasse cada movimento com os meus olhos. era mais por aí, acho. eu olhava sua panturrilha levemente bronzeada e percebia uma suave flexão de músculos, como se ela estirasse os dedos dos pés, sabe como é? quando você goza ou leva um choque - dá no mesmo - e os dedos se espalham. pronto, era assim que a panturrilha dela fazia, mas só quando eu olhava. aí eu olhava pras coxas e o mesmo parecia acontecer, eu via tudo em câmera lenta: uns pelinhos brilhavam, bem tímidos, sob aquela luz perfeita do sol mediterrâneo às 19h38. e também tinha um negócio que eu não sei, mas vou tentar descrever como um leve tripudiar de carne, tirando sarro do meu olho - lembra que parecia uma rima? pois agora, descrevendo, eu tou achando que mais parecia uma dança - enquanto eu subia e descia, incansável e interminavelmente, meus olhos pra cima e pra baixo. era muito louco, meu olho subindo pelas coxas, começando logo acima do joelho e, numa cinematografia a la david fincher, sem cortes e bem simétrica, a coxa dela parecia que não ia acabar nunca. eu via pelos sendo eriçados, que balançavam em slow motion. meu deus, essa coxa não acaba, pensava eu, mas continuava lá, olhando, querendo que não acabasse, e pra cada milímetro de perna que sumia no frame embaixo, aparecia outro em cima e eu só conseguia me ver levantando as mãos, lentamente, norman bates fazendo escola em mim. e de novo, mais uma vez, a porra da dança, o tango dos músculos, o xote de cada tendão, de cada nervo, de cada porra de veia daquela coxa maravilhosa, me tirando pra dançar. e eu olhava. puta merda, como olhava. parecia uma hora infinita, uma relatividade absurda entre eu olhar e entre ela dar um passo. era só um passo, cara, só umzinho, e eu não tinha nem chegado na metade da coxa. mas foi aí, justamente nesse meio-termo, meio-campo, meio-tempo, que minha mente levou um murro: caralho, se liga no que tem no fim dessa coxa. aí, velho, eu perdi. perdi completamente o senso e o resto de inocência, de escrúpulo que ainda tinha, guardado há uma semana, e me levantei. eu juro. me levantei como num vídeo ao contrário de queda, saca? não fiz força nenhuma e nem lembro, na real, de ter feito força alguma. mas eu sei que levantei e encaixei minhas duas mãos na cintura dela como dunga na taça em 94 - acho que até hoje tem a marca dos meus dedos na lombar dela - mas sem aquele sorriso besta de campeão, tava mais pra um urro contido ou um gemido friccionado nos dentes. era uma coisa que eu não sei explicar, até porque nem deu tempo de se sentir muito. e acho que nem ela percebeu, porque em meio segundo eu já tava cravando os meus dentes no pescoço dela, vampiriscamente, sem me preocupar com porra nenhuma a não ser levantar minha mão esquerda pra puxar aquele pouco cabelo que ela tinha na nuca. eu vou parar por aqui, preciso bater uma punheta, fiquei até cansado.

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