quarta-feira, 6 de novembro de 2013

aspetta un attimo

sou o escape da realidade que lhe asfixia. você adoraria fugir das obrigações, dos compromissos diários, dos outros, de você mesma; dele. é muito difícil mentir quando, na verdade, você me diz tudo. leio você muito facilmente. e vi quando você me olhou e achou que eu não estava olhando. sei que você considerou e considera dar pra mim. que eu deite em cima de você em algum quarto de hotel. você quer o romance que lhe falta há algum tempo, e o tesão que vem junto. a perfeita combinação de sexo, carinho, adrenalina e descompromisso que só se tem com quem não se conhece muito bem. sem julgamento, juízo de valor: sentir apenas. todas as coisas que você sabe que ele desaprova. todo o tempo perdido. eu sou a falta, a negação. você precisa fugir, ainda que por algumas horas. porque eu sou a antítese de tudo que ele é, mas principalmente porque eu sou o que você mais precisa: descartável. e nada no mundo é melhor para você agora do que uma noite de sexo com um desconhecido. além do mais, ninguém vai saber. e se passar incógnita lhe deixa ainda mais excitada. você está sendo devorada pelos próprios escrúpulos, como disse nelson rodrigues. são esses os mesmos escrúpulos que eu não tenho. você quer que eu lhe toque porque você esqueceu como é ser tocada por um homem. uma pena. uma mulher tão bonita, um magnífico animal em repouso. muito repouso, devo dizer. vi você deitada em uma cama, entre lençóis. uma luz matinal fraca de janela, cabelos desegrenhados. e eu em pé na porta observando. você se mexeu, acordou, olhou para mim. se mexeu novamente. a lenta recomposição de um seio comprimido. todos os detalhes que eu vejo e ele não: a sarda próxima da virilha. as duas virilhas, que guardam o tesouro que ele, hoje, considera banal. o maior pecado que alguém pode cometer é banalizar o sexo. e ele fez isso. você também. os caminhos já percorridos, os atalhos, os segredos. nenhuma nova descoberta, apesar dos inúmeros segredos ainda por desvendar. é uma pena. e você adoraria que eu desvendasse os seus segredos. ou ainda: que tentasse, ao menos. talvez nunca vá descobrir nenhum deles, mas o que importa é o caminho, não o destino.

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