terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Gainsbourg

Hoje, pouco mais de três anos depois, eu escrevo estas linhas imaginando que você está do meu lado. Não, sem romantismo. Imagino que você esteja realmente do meu lado, me olhando enquanto escrevo. Para mim, é um exercício de satisfação, uma massagem no ego. Para você, uma espécie de gozo. Você vai lendo enquanto escrevo, e eu vou escrevendo enquanto você pensa. Nas pausas dos pontos, nas curvas das vírgulas, você me lê: meu rosto; me vê bailando os dedos sobre as teclas, na dúvida de uma letra; nos erros de um final de palavra. Me vê lambendo os lábios ao sentir uma nova ideia e, quando eu consigo escrevê-la, você entende que também pensou a mesma coisa, e entende porque apressei o ritmo da digitação. Você está aqui do meu lado. Agora romanticamente, porque você está nua, com um lençol lhe cobrindo meio-corpo. Os cabelos, assanhados, lhe emolduram o rosto cansado. Você andou lutando esses três anos. Lutando para encontrar o que procurava. Lutou tanto que acabou encontrando. Mas, ao encontrar, percebeu que não queria ter. Ou ainda, percebeu que estava equivocada ao querer aquilo. E voltou a lutar. Agora, não para encontrar, mas para saber pelo que lutar. O caso é que o que você quer, você já tem, mas em outro corpo. É, eu sei, não se engane. Sei muito bem que o que você precisa está em mim e, se dependesse de você, estaria em outro corpo.

Um comentário:

Sandro Lobo disse...

Quero ser seu amigo, me diga o caminho! Adorei sua escrita.