sábado, 5 de março de 2011

Depois do amanhecer

- Você é uma mulher adulta, bem-resolvida, alguém cuja vida vale a pena porque você faz por onde, mas fala como uma garotinha de dezessete anos, apaixonada pelo namoradinho do colégio. Se você conheceu ele tão bem, se foram tão amigos, porque você não demonstrou com a ênfase necessária?

- Que ênfase necessária?

- Porque não o seduziu como você seduziu o marroquino? Ele iria gostar, tenho certeza. Mas você ficou na defens

- Eu fiquei na defensiva? O que você queria? Que o jogasse na cama e arrancasse as suas roupas?

- Teria sido interessante.

- Ridículo!

- Não. Não é ridículo. É somente você sendo você mesma. Mas sabe o que aconteceu? Você se apaixonou por ele e sabe que, por causa disso, você tinha medo. Era melhor e mais cômodo ser sua amiga, do que arriscar. Você tinha receio porque estava completamente alucinada por ele. Os outros nem chegavam aos pés e, por isso, você não se importava. Simplesmente fazia o que lhe apetecia. Quando você dormiu com o francês em Bali? Foi por que ele quis ou por que você quis? Quem ficou dançando com o copo nas mãos olhando para ele? Quem ficou mexendo nos cabelos e esperando que ele tomasse uma atitude? E depois que ele não tomou? Quem pôs a mão no peito dele e o beijou no pescoço? Vê? Você era assim, sempre foi, mas com ele você tinha medo. E sabe qualé a pior parte? Ele jamais iria admitir que era apaixonado por você. A timidez não deixaria. Vocês iriam envelhecer juntos, mas separados.

- Por que você acha isso?

- Porque assim é a vida. É o que ela faz com você.





- Então a culpa é minha? Por não ter estuprado ele? Ótimo!

- Não foi isso que eu quis dizer. Você deveria ter tomado as atitudes que você sempre tomou, ora, ter tido a iniciativa que você sempre teve. Por que você não agiu?

- Porque ele nunca foi apaixonado por mim, ora essa.

- Foi sim, sempre foi. Mas escute só: teria feito diferença?

- O quê?

- Se ele era apaixonado ou não. Pra você nunca fez diferença, não importasse quem era. Você ia atrás do que queria.

- Com ele fazia, porque era meu amigo. Não iria pôr em risco nossa ami

- Ah! Pôr em risco a amizade! Claro, típico de você, que nunca se arriscou por nada, certo?

- Era diferente, ele era uma pessoa esp

- Não comece. Você não quer admitir que tinha medo. Que, pela primeira vez na sua vida, você teve medo. E quer saber? Você perdeu uma oportunidade que era única. Nessa, não tinha segunda chance. Você perdeu. Pecou pela insegurança - ou pela certeza infundada - e perdeu.

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