segunda-feira, 15 de setembro de 2008

As partes de Marília

Amor pra torar na emenda





- Você não pode ser minha Ana. Você não se pintou. Ou pintou?
- Não... Não que me recorde... não que não fosse carnaval, não que eu já fosse adulta... não que eu não estivesse numa colônia de férias.
- Ou estivesse apaixonada e tatuasse o nome do namorado nas costas.
- Sim, sim! Aliás, que brega! Nunca faria isso. Você faria?
- Jamais! Eu gosto é de mulher.
- Não! Tatuar o nome de uma mulher!
- Ah! Bom... não. Não porque seria brega ou não, mas sim pelo símbolo da eternidade. Não me agrada.





- Você não quer um "amor eterno?
- Eu quero vários...
- Um, Mauricio, só um!
- Por que só um?
- Por que vários?
- Deixe-me ver como explicar...





- Sabe, eu creio que depois de algum tempo , o que era amor se torna algo diferente, uma espécie de amizade. Acho que o começo de uma relação é linda; toda sua beleza e intensidade. Não tenho interesse em transformar toda essa paixão inicial, numa relação de compreensão, de afeição, de amizade, enfim.
- Por quê?
- Porque eu gosto da paixão, do tesão, da loucura do início, e eu acho que mesmo com a idade avançada, isso é possível. Mas acredito que posso mudar de idéia depois e querer um amor pra vida toda... Mas, por ora, amar várias mulheres com a intensidade de sempre me parece mais interessante.





- Você acha que dar certo significa tempo de duração?
- Eu achava até você me perguntar isso.
- Estar com alguém, e não precisar de outra, me parece muito limitador... minha vida é muito mais do que a procura de um amor eterno. É, sim, a procura de amor, que eu posso encontrar em várias mulheres, e elas sempre terem sido meus grandes amores. Por que você achava... não acha mais?
- Porque eu acho que tempo de duração tem uma pequena relação com dar certo... meus relacionamentos não deram certo. Dar certo, para mim, é demorar... amar demorado.
- Mas essa crença você aprendeu a ter. Se eu perguntar o porquê você vai saber responder?
- Não. Mas por que acabar se está dando certo? Só acaba quando não se ama mais, ou seja, quando não dá certo.
- Sinceramente, Marília, eu acho que o não acabar é muito mais comodismo que falta de amor.
- Você pensa torto. Ou será que eu que penso torto? Eu não me acomodo, sempre acabei namoros (acho terrível) (dói de morrer) (mas, para mim, vale mais a dor de acabar do que o comodismo de viver).
- Eu admiro você, mas o que eu quero dizer é que, ao invés de se preocupar em viver aquele relacionamento do jeito que ele nos aparece, se costuma entrar numa relação olhando para a linha de chegada, olhando para o até que a morte nos separe. Por isso, a crença de que se acabou é porque não deu certo. Porque o fim é a morte, e não a vida. Eu acredito que o fim de cada relacionamento está nele mesmo, e não na minha idealização de futuro ou de amor, e que cada mulher que eu conheci me trouxe uma liberdade, um aprendizado, uma lembrança. Algumas deixaram marcas mais fortes, outras nem tanto.





- E o seu amor, como anda?
- Meu namorado? Foi um breve affair...
- Breve affair! Como você está se sentindo?
- Aliviada, com uma mistura de pena dele e de raiva de mim, por ter iniciado algo que eu sabia que daria errado.
- E o que fez você começar?
- Carência? Não sei sabia... Talvez um desejo profundo de ter alguém pra valer, amar demorado. Criancisse?
- Não, não é. Mas você não sabe o que é amar demorado, como pode querer? Acho que o que você quer é intensidade
- Sim, por favor, intensidade!
- Desejo, loucura, amor pra torar na emenda.
- Claro! Quero amar, Maurício! Lógico!
- Isso, definitivamente, não tem nada a ver com tempo.





- Amar pra torar na emenda. Por que é tão difícil?
- Quem disse que é?
- A vivência.
- Mas você nem terminou de crescer ainda.
- Porra, mas todo mundo já conhece amor pra torar na emenda. Eu não, mesmo faltando muito pra crescer. Eu quero o amor que ninguém tem, o amor que eu experimente e que ame pra torar. Amor, porra, você não sabe o que caralho é amor?





- Eu não faço idéia.
- Como assim? Você mentiu pra mim?
- Por que?
- Porque você é poeta, caramba. Porque você fala de amor. Quando você fala de Ana, você fala de amor. Ou não? Você é um solitário, certo? É, você é sozinho. Você nunca teve amor por uma mulher. O amor que você tem é pela vida... é diferente.
- As mulheres da minha poesia tem muito mais que amor. Amor nunca foi um fim para mim, por isso estou perguntando a você.
- Não sei o que é amor. Só queria conhecer.
- É isso que estou tentando lhe dizer. O amor não está lá, esperando para que você o atinja. Ele está em você, Marília; é você quem faz uma relação ter amor ou não.





- Eu nunca esperei que as pessoas me entendessem, mas desde que eu lhe conheci, você é a única pessoa que eu gostaria que entendesse o que eu digo.
- Às vezes entendo, noutras não... Eu insisto muito em lhe entender. Com você, eu quero a todo custo entender. Mas depois de entender não importa. Sabe como é? Com você eu sinto. É melhor. Eu entendo mais com você, sentindo, entende?
- Você tenta me decifrar, é diferente.
- Não... eu quero entender também. Mas entender e lhe decifrar às vezes perde a graça. Aí eu sinto; só sinto. Por isso você sempre é bonito pra mim, porque eu respeito o meu não entender por você.





- Adoro quando você mente com graça.
- Você acha que eu minto agora? É, é mentira, sabe... mas é sincera.





(Marília é Maurício em poesia. E cada segredo que o medo da descoberta possa vir a trazer, é uma nova tentativa de se fazer entendimento. Auto-entedimento)

10 comentários:

Marília Gil disse...

noooooooooooooossa! que surpresa emocionante ver nossas conversas reunidas aqui! legal, ne, lê certas coisas que a gente diz sem pudor...

não sou dou a permissão que vc me pediu (tardiamente), como lhe agradeço por esta emoção que você me causou.

me senti lendo clarice em pedaços...

tu me entende?
:*

C. Maria disse...

Incrível... Sempre me senti estranha por compartilhar de muitos desses pensamentos que você expôs sobre o amor... me identifiquei... Legal seu jeito de escrever...

Ah, tem post novo lá no meu cantinho... Se lhe interessar ler, é claro...
Abraços

Anônimo disse...

Divido-me entre as duas pontas. Quero ir pro céu do amor eterno, mas sinto falta do inferno das paixões loucas..
Gostei daqui ;)
Beijos

Anônimo disse...

Amor pra torar na emenda!
Só disso que precisamos para viver!

Cla disse...

O sentir sobre o entender.Clarice bem já dizia né?hehehe
Gostei,gosto.Vc escreve muito bem!
=)

Luana Ferraz disse...

Gostei também daqui...

Unknown disse...

*-*

José Ferreira Júnior disse...

Dan, isso é paixão.

Teu mal é o excesso de romantismo.

Lara Torrezan disse...

tu podia escrever uma peça :)

reli e achei mais lindo.

Ludmila disse...

tu tem uma leveza inquestionável, dan. lindo demais.. :)

;*