sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O homem que permaneceu

Josué viu muitas almas perdidas pelas marolas dos mares de sua vida, e sempre tencionou jazer num paraíso post mortem de virgens cálidas, conhaques de idade superior à sua, aguardentes fabricados nalgum paraíso alcóolico enterrado nas brenhas da embriaguez, e tanto destilado quanto pudesse ingerir seu corpo paradaxoalmente decomposto e desencarnado. Não porque soubera que morreria exatamente naquele momento, naquela noite, naquela semana de loucuras, batizado pelos mil odores do álcool, durante as noites de torpor ébrio que o envolveu desde que se passara pela prova - condizente com a sua idade - dos mais idosos: a solidão, só e acompanhada, que o fez enxergar mais além do horizonte crepuscular de sua vida. Josué viu as guerras que o sereno da velhice traria: batalhas homéricas contra os banhos matinais e, talvez ainda mais difíceis, as lutas do seu corpo para erguer e movimentar a si mesmo, este corpo, decrépito em vida como não existiria um falecido pior; viu-se erguendo sua armadura orgânica, oxidada pelos anos de descaso, através das ruas e becos repletos de moribundos tão ou mais possivelmente maltratados pelas duras penas a que são submetidos os que levam a vida da qual a razão de Josué, por mais de meia existência, tentou livrá-lo; viu-se rejeitado, maltratado, renegado e mais: viu-se abandonado e esquecido e viu-se esvanecendo aos poucos, quem sabe durante um sono alcóolico ou sufocado nos próprios fluidos alcoolizados.

4 comentários:

Anônimo disse...

então.
que intenso isso.

você escreve com a insensidade palpável de um escritor pronto.
e eu nem tô puxando seu saco.
até pq nem peguei neles ainda.
rsrs

e viva ao álcool!
\o/

Anônimo disse...

combinado.

mas com bebida álcoolica ou café por favor.
^^

Anônimo disse...

intenso e doloridamente engraçado.
gostei.

Márcia Leite. disse...

Passou bem o sentimento de fim-de-carreira do sujeito, decrépito!

Dããn, encontrei Adiel no carnaval do Recife, gente-fina do mesmo jeito o menino!

=)