terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

A noite dos varões

À Caroliane dos Anjos só sobrou - após despertar e constatar com felicidade genuína e recatada a pequena mancha encarnada nos lençóis - vibrar em silêncio para não acordar as suas irmãs. Então recostou-se à cama e imaginou como seria a sua noite, agora que já podia se considerar um fruto da evolução: uma moça de verdade; e logo mais, se tornaria uma mulher experimentada nas artes do prazer e talvez até mais: nas artimanhas do amor.
Passara toda a infância ouvindo as histórias das irmãs e das primas sobre a noite em que foram ter com os varões e se deitava rezando aos arcanjos do seu nome que lhe metessem a espada celestial entre as pernas dela, para verter o sangue divino que a traria ao mundo real. Chegou ao absurdo de furar o pescoço das galinhas para colher sangue e derramar sobre as vestes, à noite, e assim enganar os seus pais e também a biologia de Deus. Não foi feliz, pois no momento em que derramava o líquido na cama, sua irmã Clarissa deu um urro de pavor de dentro das insanidades do sono, fazendo com que Caroliane derramasse todo o sangue no chão. Teve de limpar com trapos que enterrou no quintal, à meia-noite.

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